autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

domingo, 29 de junho de 2014

Pesadelos

Nessas viagens absolutamente esquizofrênicas
, eu conjurei em francês
as mais absurdas figurações
procurando adjetivos de olhos fechados.

Eu noto o cambaleio do lustre de luz negra
cair sobre o fosfeno
na perdição dos lúcidos de água fria,
pele polida, coração vago.

Não há monstro que habite esses corpos,
silhuetas eróticas,
olhares vazios
                 [ perdidos
                        na linha do não
                                  e do talvez ]

Vejo nada mais do que estrelas;
gravitação universal.
Pirueta no espaço, aterrisso
risonha na mais linda lua:
carne crua, desejos metálicos,
rosto disforme na quimera entre cacos.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Maresia

O mar
Ao mar
Alma
Eu

Ah, mar
Amar
Ar
Teu

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Quem tem * tem medo.

Tem remédio pra esquecer
Remédio pra dormir
Remédio pra acordar
Remédio pra não sentir

Aí você abre o microondas
Derruba o remédio
Ele se parte no chão
E leva embora uma esperança de que tudo vai dar certo

Você se ajoelha e agarra com tanta força
Como se sua vida dependesse disso
A força faz com que cortes se abram em suas mãos
E o sangue se espalha sobre o que você mais gostava de fazer

Sangrando e se machucando, você chora
E lá está, no chão de sua cozinha:
Uma poça de esperança de dias melhores
Uma poça de sangue
E uma poça de lágrimas. 

Se levanta, engole o choro, arruma a bagunça e retira os cacos de passado da sua mão

E então toma um remédio para curar seu descuido;
Um para curar sua insanidade;
Um pra curar a dor;
Um pra não morrer;
Um pra parar de chorar;
E outro pra esquecer (não vou completar). 

Paz. 

sábado, 21 de junho de 2014

acordei
meus olhos rolaram
e não viram nada.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Solstício de inferno

Nada,
monumento algum seria capaz
de acalmar a minha palma
como as folhagens de outono.

Esse é o último dia da brisa
náutica, calmaria sem cais,
sem retorno, sem caos,
bonança cáustica.

São as secas gracilianas
que pestanejam atrozes
sob o cílio que arde.

E eu? me afogo no mar escarlate,
estilhaço no fogo que gela,
no aceno que parte.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Eu, eu, eu, eu.

É que eu sou assim
Eu corro atrás do que não gosta de mim
Eu deixo pra lá o que corre por mim
Eu desisto quando chego no final
E esqueço do que prometo lembrar

Da alça errada
Acabo lembrando do ódio que senti
E da vontade de socar paredes
E aquele sorriso todo que vira um nada
Diante à tua face imóvel

Eu acabo procurando no incrível mundo
Fotos e momentos não tão meus
Só pra poder sentar do teu lado e dizer algo

Eu escondo as palavras
Porque não quero que você as entenda

Eu finjo, eu minto, eu corro
Eu morro, as vezes
Me culpo, sumo, volto, te deixo e te quero
Umas três vezes ao dia
Pra no final dizer "ta tudo legal. E aí?"

Acabo por pagar de palhaço
Encarno mil homens
Sinto sua paixão
Digo as coisas mais erradas
Por querer
Só pra ver a reação

E se eu me tornasse assim
Tão louco
Por você?
Por mim?

É como se eu quisesse todos os sentimentos que eu puder sentir em uma única noite
E eu quero
Você
Essa
Noite
Sem
Falta
.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Eu me sentiria mal se isso fizesse sentido pra você

No fim,
todo mundo é
meio torto.

                                   Todo mundo carrega o fardo
                                                                      na farda,
                                                 no olhar.

                               No fundo
                                                                                                  me ocorre que
                                                           na ponta do pé
                                       torto
                                                                            todo mundo é daltônico.

                       No começo
                                                 do fim
                          do meio
                                                                                        nada nunca fez e nunca fará sentido.

                                   E nem precisa, porque no fim e na metade
                                                                                                       
                                                             quem liga?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Assuma.

Eu tentei, saca. Eu juro que tentei.
Eu fui mais fundo, eu puxei mais ar. 
Segurei minha respiração, assim como tive calma e paciência. 
Cheguei a lugares que achei que nunca chegaria. Dormi chorando por algumas noites, deixei de dormir por outras. 
Fiz com que a minha vida dependesse de coisas pequenas e sem graça. Sem emoção, persegui um brilho de esperança lá no fundo e a cada vez mais fui perdendo partes de mim com total vigor para alcançar um pouco. 
SÓ UM POUCO.
APENAS UM POUCO.
Eu perdi a cabeça, perdi as memórias, eu deixei de viver por um ou dois dias.
Eu tentei.
Eu consegui.
Eu perdi. 
Eu fiz TUDO DE NOVO.
Sabe que talvez eu seja assim mesmo, todo torto. Estranho. Simples.
Mas tenho o que sentir. Eu quero sentir. 
E eu quero um amor e eu quero promessas e quero músicas e todo esse drama. 

Meu pai me ensinou uma coisa desde pequeno:
Se você mata alguém, a culpa é toda sua. Quer fazer algo, vai lá e faz. Mas carregue o peso nas costas depois.

Não coloque a culpa em coisas ou em pessoas. 
Se eu corri pelos desertos mais quentes e naveguei nos mares mais fundos, a culpa é toda minha.
Mas cortar as minhas pernas e me naufragar é culpa sua.
Assuma. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

você se foi, mas se deixou
mas só parte de você ficou
mas qual parte, me diz, meu bem
mas por que não?

half of yourself

só tem uma parte aqui, meu amor
só tem um pouco do seu cheiro
só tem um pouco dos seus traços

halfofyourself

três fios do seu cabelo
duas gotas do seu amor
um fastasma seu

halfofyorself

eu quero conhecer tudo
sentir tudo
viver tudo
-er tudo

mas volta, meu bem
"se você for me soltar me avisa para eu fechar os olhos, não vai doer se eu não me ver cair" 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

É, pois é

Não há

Tristeza
Tereza
Triste
Que valha
Navalha
A pena
Apenas
Pena
Que flutua
Na tua
Lua ou
Rua.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

desassossego, porque estamos sendo dizimados

naquela
linda avenida
se vê
uma linda
singela
como o lado
do asfalto

procura-se
a lágrima
perdida
naquela
infinita
cordilheira
sem salto

escorre
o bueiro
no palco
o sangue
dos vermes
que habitam
o asfalto

impunes
tremores
calados
acolhem
a noite
de olhos
fechados.

terça-feira, 3 de junho de 2014

E agora, José?

Refletiu
Brilhou
Soltou
Desapegou

Me perdi
Escondi
Sofri
Menti

Eu achei que era mais que isso
Eu achei que sabia

Aí eu vi seus olhos
E sua boca abriu

Será que se eu esticar muito os braços
E ficar na ponta dos pés
Consigo alcançar o céu?

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A canção mais feliz do mundo

começaria com uma nota qualquer de sax tenor
assim, bem baixinha,
acompanhando a curvatura do seu lábio inferior.

As notas mais graves enaltecem o entrelaçar das mãos
enquanto você foge dos tons agudos do mundo,
(eu realmente queria que Sinatra fosse imortal)
para criar um acorde que ninguém mais conhece.

O refrão gira em algumas náuseas, a ponte é interditada
com uma placa de "pare" e sirenes de cores mornas,
mas poderíamos dançar por entre as batidas experimentais,
pela bagunça do estúdio, pelos backing-vocals estremecidos
e pelas demos nunca gravadas.

Não. Eu sei que você pausou a música.
Não liga o rádio, não, a transmissão é ruim.
Senta aqui e vem compor mais uma comigo.

Uma costa para outra costa

Hoje eu dormi sem camisa
Na esperança de você vir
Me acordar
E dizer que as minhas costas são bonitas.