autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

domingo, 27 de julho de 2014

olhar
pensar
mirar
focar
não
errado
olhar
pular.
torto
virado
esculhambado
pra frente
pra direita
rápido
mais
mais
mais
mais
parar
sem
parar
sem
pensar
ponto
PARE

olhe para os seus dois lados
veja quanta gente sofre
por falta de sofrimento 
quanta gente sente tanto
por falta de sentir

[
sem ordem
sem padrão
sem futurismo
sem vanguardismo
sem cubismo
sem expressionismo
sem romantismo
sem lirismo
sem parnasianismo
sem falta
]

(você parou, olhou, pensou, focou e mirou?)
(fez tudo?)
(faça de novo)
(mas não pense)
(volte a correr)
(sem parar)
(sem olhar para trás)
(sem olhar para o seu lado, dessa vez)
(nem o direito nem o esquerdo)
(pule as pedras)
(as barreiras)
(as poças d'água)
(os corpos)
(as armas)
(quando chegar lá)
(sente)
(esqueça)
(tudo)
(veja o céu)
(escute o barulho de águia)
(aquele criado por hollywood)
(se sinta pleno)
(plenamente completo)
(olhe para trás, nesse momento)
(e se pergunte)
("se você chegou lá
por que
eu ainda posso
saltar para a frente?")

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Girando

E o mundo gira enquanto eu,
cercada de nada, me despeço
da sua sua multidão.

Tuas falas fúteis, aglomeram no vácuo
e ecoam no vazio.

Tua risada
me deixa sozinha no meu eu tão só.

Os pássaros cantam e me "insira a palavra que eu não sei"
sentimento de esquecimento.

A voz tua, tão tua,
evapora na imensidão escura do teu ser.

E assim, o meu mundo gira na contramão do não.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

HIGH VOLTAGE (obrigado)

Não quero mais tontear por aí...
Importante é ter novas idéias e correr atrás de mais coisas. 
Desistir. 
Brincar. 
Sorrir. 

Mas será que dá certo? 
Você já tentou mudar?
Eu digo: mudou? 

Por alguém? Por quem?
Valeu a pena? 
Será que vale a pena? 

Importante é arriscar. 

Fugir para um copo de absinto e um cigarro sujo. 

Fugir pro mar.
Ah, mar. 

Amar é difícil? 
Você foge ou encara de frente?
Como faço pra dizer o que eu quero?

Ah, não, não tô pedindo por ajuda...

Eu não iria encontrar, mesmo. 

domingo, 20 de julho de 2014

Uma crônica sobre todos os cronistas mortos,

Peço perdão pela casualidade. 

Sem querer fugir dos meus rituais de criação, pego a caneta azul e rabisco algumas palavras que possam aquietar a minha dor de cabeça, mas olha só — às vezes dá para recorrer a uma máquina. Máquina do mundo, já diria Drummond, e todos os seus seguidores assíduos que são sempre um deleite de encontrar. Poderia eu olhar ao redor e expulsar alguns versos sobre o lustre do meu quarto, que tem duas cores. Sobre como eu sou sensível à poesia da vida, escrever bobagens sobre a textura daquele gravetinho ou apertar a pedrinha que o meu amor encontrou na areia, alguns meses atrás.

Só falta um copo de absinto e um cigarro sujo para eu me tornar mais uma dentre os milhares de desajustados se afogando em sílabas poéticas. Nunca me embriaguei o suficiente para que minhas palavras saíssem da minha zona de conforto, mas talvez seja só questão de tempo e espaço. Até porque, o que todos esses fracassados têm em comum já é impregnado, latente: escrevedores sofrem. Não precisam muito mais do que um pé na bunda ou epifanias de café-da-manhã para arranjarem motivo para apunhalar o capitalismo e berrar que o amor é a maior merda já inventada. Isso está escrito nos termos e condições de uso.

E é claro que, sem lê-los, embarcamos numa viagem sem volta. Carregamos nosso lar junto, se for preciso, mas o negócio é nunca olhar para trás. Às vezes você escreve e tudo dói. Das vísceras, do diafragma, do vacúolo pulsátil até aquele calo que eu tenho desde que comecei o processo de alfabetização. Talvez ele nunca suma, porque tudo parece um sacrifício, e há intensidade até na hora de apertar a caneta.

Por isso é como um vício; escrevemos porque sempre faltam palavras, por mais que não haja mais o que dizer. É um ato desesperador, dos mais tristes e solitários do mundo, tudo porque a vida não basta. Escrevemos silêncios e escrevemos sobre a morte, porque vemos nossos colegas a conhecerem todos os dias — perder um escrevinhador para a morte é quase uma antítese. É relevar a piada e o advento do dia que só ele, sempre com uma caneta na manga, seria capaz de ver. Tempus fugit.

Agora, que descansem em paz todos esses que sorriram lendo uma crônica alguma vez. Que as memórias cotidianas se tornem crônicas, nada mais do que vivas, seja no papel ou na lápide. Eternas por entre os destroços, instaurando o caos da nação, nasce aqui mais um cronista para escrever sobre quem morreu.

E eu só quero ser mais uma.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

E afinal?

Partida
Parte doída
Ou parte da vida?

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Help, primo!

Formou um calo no meu pé
porque eu tentava ficar em pé.

Era a bolha na minha mão 
que surgiu quando tentei escrever.

Mas meus pés, com calo ou não, encaixam nos seus, com calo ou não. 
Minha mão tão cansada de escrever pra você quer te conhecer.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dobradinha do Pê. Dois posts, dois dias.

"Arriscar" vem de "assumir riscos", mas pra mim é de risco de caneta, mesmo. 

Risca uma folha pra você ver. É bem difícil prever a espessura, direção ou movimento do risco. Quando se vê, já tá tudo riscado. 

E o risco é à caneta. Não sai. 
Passar um corretivo por cima corrige, mas não apaga. 

Você arriscou hoje? 

A rua / Autobiografia não autorizada

Eu atravessei a rua e olhei pra cima
Você voava e cantava com suas milhões de cores 
Explodia no ar
Uma beleza

Aí te acorrentaram
E você gritava e implorava por socorro
E eu nada podia fazer, já que não posso voar
Então eu apenas observei e chorei, quando cheguei em casa

Aí eu acordei
E foi você mesma quem se acorrentou. 

/

Logo pensei: eu só posso ser muito idiota.
Por entre nós e lençóis, "eu te amo"s não dados e sujeira nos olhos, reflito: só posso ser muito idiota. 
De levar cada tombo e subir mais uma vez, não com vontade de acertar, mas com a intenção de se esfolar de novo. 
Querendo aparecer e ao mesmo tempo recluindo. De soltar e largar milhões de vezes só pra saber como é estar em perigo. De ter medo de atravessar a casa escura, mas no fundo esperando que um fantasma apareça e me assuste. 
Eu quero rir quando não é hora. Faço piada quando não vale. Falo mil besteiras para que pelo menos uma faça sentido. 
Tento te convencer de que a vida é bela e engraçada, mas estou sofrendo pelo olhar. 
Estouro, perco a calma.
Peço desculpas por rir e por chorar. Não ligo. Ligo. Ligo muito.
Peco pela experiência. Acho que posso. Tenho medo de tentar, mas tento.
Melhor pedir perdão do que permissão. 
"Você não tem noção do ridículo?", disse ela. Tenho. Choro escondido. 
Aprendo sozinho. Peço ajuda quando preciso. Ouço a mesma coisa várias vezes, se ainda faz sentido. 
Mesmo quando não faz. 
Não sou melhor nem pior.
Só não sei. 
Nunca sei. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

ir

abduzir abolir abrir abstrair acudir aderir admitir adquirir aduzir advertir advir aferir afligir afluir agir agredir aludir aluir antevir anuir aplaudir apodrir arguir assentir asserir assistir assumir atingir atrair atribuir aturdir aturdir
banir bipartir brandir bulir
cair carpir cernir cindir cingir coadquirir coagir cobrir coerir coexistir coibir coincidir colidir coligir colorir comedir compartir compelir competir
comprimir concernir concluir concutir conduzir conferir confluir confundir conseguir consentir consistir constituir constringir construir consumir contrair contraproduzir contravir contribuir contudir convergir convir corrigir cumprir curtir cuspir
decair decidir deduzir definir deflectir defluir deglutir demitir demolir denegrir denigrir deprimir desaurir descobrir descomprimir desferir desfranzir desfruir desiludir desimpedir desistir desmentir desnutrir despedir despir despoluir destingir destituir destruir desunir diferir difundir digerir diluir diminuir dirigir discernir discutir disferir dissuadir distinguir distrair distribuir divergir divertir dividir dormir
eclodir efluir elidir elixir embutir emergir emitir encardir encobrir engolir entreabrir entupir esbaforir escapulir escarnir esculpir esgrimir espavorir esvair evadir evoluir excluir exibir exigir existir expandir expedir expelir explodir exprimir extinguir extorquir extrair
falir ferir fingir flectir florir fluir franzir fruir fugir fulgir fundir
ganir garantir gerir grunhir guarir
iludir imbuir emergir impedir impelir imprimir incidir incluir incumbir incutir induzir inferir infligir influir infringir infundir ingerir inibir inquirir inserir insistir instituir instruir insurgir interagir interferir intervir introduzir intuir invadir investir ir irruir latir luzir
mártir medir menir mentir mugir multicolorir munir nutrir obstruir omitir oprimir ouvir
parir partir pedir percutir permitir perseguir persistir persuadir polir poluir porvir possuir predefinir preexistir preferir premir premunir prescindir presidir pressentir presumir preterir prevenir previr produzir proferir progredir proibir promiscuir prosseguir prostituir protrair provir prurir pungir punir radiofundir radioemitir reabrir rebolir rebulir redigir redimir redistribuir reduzir reemergir referir refletir refluir refundir regredir reintroduzir reluzir remedir remir renhir repartir repelir repercutir repetir reprimir reproduzir rescindir residir resistir ressair ressarcir ressentir ressequir ressurgir restinguir restituir restringir resumir retingir retinir retorquir retraduzir retrair retribuir retroagir reunir revestir revir rir rugir ruir
sacudir sair sarnir seduzir seguir sentir servir sobreluzir sobressair sobrevir
sorrir
sortir subdirigir subdistinguir subir submergir subnutrir subsistir substituir subsumir subtrair sucumbir sugerir sumir suprimir suprir surdir surgir surtir
teledirigir tingir tinir tossir traduzir trair transferir transgredir transigir transmitir travestir tripartir tugir
unir ungir urdir urgir usufruir
vestir vir vizir
zumbir zurzir

Confissão

O mundo às vezes procura nada mais do que o acaso
como uma hipótese cômoda
para os amantes insônicos
para os abraços errantes
um sopro que leva tudo para casa.

O desfoque é nada mais do que
                                                                                ( , )
desvio da lente que procura paixões
em vinte e quatro quadros por segundo
mas é oblívio ao trocar de filme.

Talvez seja frio como o impasse
de roupas mal lavadas e café gelado
que traça destroços por nossos lençóis
(analogicamente digitais, um jorro de tinta aqui
e fracassos remotos lá do outro lado),
espelham em nós como faria Áquila.

Aqueles pareciam os últimos feitiços
e eu nunca soube se eu seria incapaz.
Poderia tornarmos foscos, sejamos infinitos
no reflexo da saudade de teus olhos castanhos, 
longínquos na incerteza do nosso caos.

Meu bem, procura a tua voz de novo
e volta pra dançar comigo mais uma música.
Seja essa só mais uma linda valsa qualquer ou
um pequeno, mas grande pedaço
do resto das nossas vidas.