autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Já Que estamos aqui / Miau, é isso ai

Sentimentos
Senti mentos 
Sente mentos
Sete mentos
Sente menos
Acabei por sentir menos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Carta aos amantes parnasianistas,

pois sempre escrevi cartas demais para amores de menos.
Procurava transcrever tudo aquilo que nunca me foi sentido
em uma página única em escrita fina e itálica, negra como
um objeto qualquer do neoconcretismo, vivendo romances
à la Truffaut e surrupiando construções metafóricas de caráter
um tanto quanto modernista, cientificista, astronômico ou
meramente lunático em uma poção da metafísica do amor.
Não era tudo isso. As palavras eram cruas e mal vestidas,
porque não há poesia que carregue o fardo da inexperiência
até que alguém seja bombardeado por milhões de partículas
que transformem a poesia em corpo e curva. Pois agora seriam
lábios cerrados que construiriam os versos, e não mais palavras.
Ah, meu amor, a vida era mais leve e sem aconchego, sem colo
para dar, sem calor para sentir, sem o arrepio da pele estarrecida
e sem a dúvida e a perplexidade e a insegurança que nos enterram.
A gente nunca sentiu o copo vazio porque ele nunca havia sido
servido, não? E porque às vezes é tão difícil retornar, porque o
mundo é tão grande lá fora e há uma infinidade de medos que
provocam as minhas entranhas, sem licença para entrar ou aviso
ao sair. Me desculpe... Não consigo por ora enfrentar a
velocidade com que os dias passam, mas eu só escrevo cartas
e procuro os resquícios do amor espalhados pelo espaço.
E não se trata de ter fôlego, mas de saber o que dizer ou saber
o que sentir. E eu sei que você também não sabe. Ninguém é
sério aos dezessete anos. Então eu continuo escrevendo sobre
você para o amor, que é o que vem me buscar dos retratos
p a r n a s i a n i s t a s     e me joga ao naturalismo do teu ser,
que é melhor do que qualquer espécie literária que eu poderia
pensar em escrever.

domingo, 9 de novembro de 2014

amanhecerá
amanhã, será?
(teatro mágico)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Tonight we dance

It was the most boring moment in my entire life. The teacher didn't end the class even if it passed thirty minutes over the time. The rain fell outside. It was strong a lot.
"you guys can go now and a big hug"
I didn't know how to run to pick a bus in such rain. I stopped at the door of the building. I was looking at the rain, the cars, people running, it was some kind of funny. Then I saw her.
Some happy asian eyes with a monster hair. We exchanged smiles. The invitation appeared in a few seconds. When I entered the car, I was a little bit wet.
"hi, thanks for this"
"oh, nothing. the traffic is horrible, do you mind sleeping at my house? my parents are traveling, by the way"
"no, no, it's okay"
The car was an embarrassing moment. I was very thankful for the ride, but I didn't know how to act regarding sleeping at her place alone. She was smiling. I looked into it. There was a lot of life. I turned on the radio and it was playing shitty music, so I tried to change and I found a station which was playing Singin' In The Rain. We laughed about the rain thing.
We stopped at some fastfood restaurant, we were both hungry. I lost the embarrassed feeling and we talked about everything. We knew each other from a party and from common friends, but never talked to each other directly, actually. I felt attracted to her a little bit.
When we got inside her building, we needed to walk on a corridor without a roof. An idea appeared in my mind at this moment.
"i have an idea, do you care about being without your shoes and remove your tights for a moment? i know it's weird but my idea is really cool"
She was a little bit shy about what I asked, but she took them off and gave me them.
"wait"
I ran to the other side with my backpack, her tights and shoes, I removed mine too and took it to a safe place and ran to her, again.
"i had an idea when i connected to the Singing In The Rain song and saw this, can we dance in the rain?" 
She gave me her hand and smiled.
We became wet really fast. But we were happy. We danced and I was really bad at dancing. But it didn't matter. If someone saw us doing that, I guess that person would think we were both retards. Nietzsche has said something about it one day: "and those who were seen dancing were thought to be insane by those who could not hear the music".
I didn't know what was happening, but I was happy.
We stopped. We looked into each other's eyes. We smiled (again).
Then, we kissed. I felt like our universes were dancing. I had a lot of butterflies in my stomach.
I was in love.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Travessia

Sinto o peso confortável da minha mochila em minhas costas.
Mesmo sem estar atrasado, apresso o passo pelo simples fato de apressar o passo.
Subo a escada de três degraus como se fosse um só.
Pergunto o clássico "beleza?" para o motorista e ele sorri para mim.
Encosto meu cartão na máquina e escuto um "pi" como resposta negativa. Tento uma, duas, até funcionar. Sinto o embaraço de travar a fila inexistente.
Passo pela catraca.
Vejo todos os tipos de pessoas amontoadas vivendo - ou saindo da vida, ou até, ainda, voltando para a vida delas.
Vejo pessoas lendo, cada uma imersa em um universo diferente, conseguindo fugir de uma realidade para cair em outra. Realidade essa que, dessa vez, também é real.
Pessoas com fones fazendo o esperado: ouvindo o inesperado. O garoto que usa óculos e uma mochila carteiro está ouvindo rap e se sentindo vivo. O marmanjo que tem o cabelo grande e uma camiseta de uma dessas bandas de metal está ouvindo bossa nova. A menina ruiva já, em compensação, é um mistério - ninguém sabe dizer o que ela ouve, e se sabe, ela estará ouvindo outra coisa.
Tem um cara um bocado engraçado ali no canto. Três lugares estão vagos e mesmo assim ele fica de pé. Ele não para de bater os pés como se estivesse tocando bateria e tamborila os dedos nos lugares para se segurar do ônibus.
Um grupo de amigos conversa no fundo do ônibus. Falam bobagens e mostram os dentes em sorrisos sinceros, com semblantes cansados.
E no meio de tanto mistério, tristeza, alegria, e dessa salada de frutas sentimental, eu não sei onde sentar.

Descrição.

Saindo, percebeu o velho. O velho apontou para ele e disse, com carisma tradicional:
— Vai se formar em quê?
— Serei um ótimo advogado, se Deus quiser – adorava usar expressões como "Graças a Deus" e "Se Deus quiser" com pessoas mais velhas. Passava a impressão de ser um bom moço, dedicado e tudo o mais. 
O velho pareceu impressionado e abriu um belo sorriso. 
— Mas olha só! Que Deus te abençoe, então! 
— Mas ora... Amém! – riu. Não queria ser advogado e nem acreditava que Deus poderia querer algo do gênero. 
Saiu pelo portão. 
Depois de viajar por 3 horas no ônibus, notou a garota. Tinha cabelos castanho-escuro, com franja e amarrado. A camiseta larga e caída ombro-sim-ombro-não cor cinza combinava com sua pele clara. Tinha mãos pequenas e estranhamente não tão finas. Nos dedos, um anel grande em formato de asas. Usava um short jeans curto, exibindo as pernas brancas e delicadas. No pés, all star cinza de cano médio. 
Parecia interessante. Interessante até demais. A encarava na esperança que ela olhasse para ele também. Aconteceu. Olhos castanhos bem escuros e uma boca extremamente delicada e rosada. Dessas garotas que não usam tanta maquiagem. Ofereceu um sorriso, que não foi correspondido. A garota misteriosa se virou novamente à janela.
... Mas é engraçado. Você corta os cogumelos em partes iguais, mergulha-os em manteiga quente, frita até ficarem bem escuros e come com prazer. Depois bota tudo pra fora; por cima ou por baixo. Ter o prazer em comer soa errado, agora; mas essa é a coisa que gostamos de fazer: inutilidades. 
Criamos a necessidade de comer mais para criarmos a necessidade de nos exercitarmos para poder queimar a gordura que nós colocamos no nosso corpo, por puro prazer. Soa justo. 


Desci no ponto e esperei que ela descesse também. Quem sabe poderia puxar algum assunto ou algo assim. "Como vai?" "Já não te conheço de algum lugar?" Ou qualquer coisa. Não sei muito como fazer, mas poderia. 
Não fiz. Ela não desceu. 
... Às vezes você está levando uma torta para uma casa desconhecida, esperando que a tarde não valha a pena. Acha que tudo vai dar errado e que não vai gostar do seu final de domingo; mas a mesa vira. Você descobre que não importa onde estiver, se houver boa conversa e bons amigos (e uma boa torta), tudo vai dar certo. O dia depende de você.