autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Desculpa por nunca escrever sobre você

Sabe, eu te vi crescer. Às vezes vou te buscar e você está sempre (sempre) lá, radiante, guardando os seus brinquedos na mochila e logo correndo para alcançar a minha mão. Você sorri e pergunta como foi o meu dia. Tenho internalizado já que você não entende e nem sequer se importa muito com a minha resposta, mas ainda assim faz questão de perguntar e eu faço questão de contar algum detalhe bobo porque sei que você vai rir. É como se tudo o que você enxergasse fosse de amplitude gigantesca, imensurável, astronômica. Está bem longe de qualquer compreensão de alcance teórico ou acadêmico. Nenhuma tese de pós-doutorado conseguiria chegar aos pés daquilo que você sente ao aprender a escrever uma palavra nova. É como ver o universo todo se expandindo, crescendo e você moldando as coisas de um jeito completamente novo. Juro que quero ser como você quando crescer. Quero resgatar a pureza no manuseio, o brilho nos olhos, a paixão e o amar só porque aquilo é vivo e vivemos o agora.

Meu Deus, eu tô vendo você crescer. Desculpa por nunca escrever sobre você. A gente só escreve quando a gente tá triste, porque quer transformar a tristeza em algo bonito. Você já é o que há de mais bonitinho, e eu não quero perder de ver isso nem por um segundo. Você cresce todos os dias e não consegue aceitar que um dia eu já fui do seu tamanho, e que daqui a pouco você vai ser bem maior do que eu. Às vezes acho que você já é. Eu tô vendo você crescer e eu sei que vou te perder, porque é aí que você vai se encontrar. Sei disso porque seus olhos enchem de lágrimas iguais aos meus. Você vai segurar a mão do mundo. E o mundo não poderia estar em melhores mãos. 

É, pequena, eu sei que você vai cuidar de tudo. Vai sim. Agora vai logo brincar, só mais um pouquinho, porque daqui a pouco é hora de dormir e amanhã o dia vai fazer sol.

domingo, 26 de abril de 2015

E aí, como é que você tá?

Às vezes eu desisto de tentar entender a ordem das coisas.
Desculpa, mãe e pai; tenho passado muito tempo aqui em cima pensando nas coisas que estão a acontecer na minha vida e não dei muita atenção a vocês por conta disso. Eu também quero que tudo isso seja só uma fase e logo passe.
Muitos acham que se abrir demais é perigoso para si mesmo – e é –, mas qual é a graça de se preservar tanto?
Meus amigos me conhecem muito bem e sabem do que gosto e do que não gosto. Sabem o que me faz rir muito e o que me faz chorar horrores.

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Estou começando a entender a sua coisa de deixar os outros pisarem em você. Olha, admito que tenho problemas sérios de auto estima. Percebo que sofro de uma insegurança terrível e que não sou como os caras descolados por aí (viu?), mas estou trabalhando nisso. Sabemos que somos diamantes brilhantes no meio de areia insignificante, mas ainda não descobrimos nosso valor. Vamos trabalhar nisso, sim?

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Ei, cara. Não é culpa sua. Essas coisas acontecem. Espero que elas um dia passem, também. Mas tá tudo bem, sério. Vai dar tudo certo. É só um mal entendido. A gente vai resolver essa coisa se conversar com calma.

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Sim, tá foda. Mas todos sabiam que seria. Até eu sabia. Mas é óbvio.
Como eu sempre digo: "jogo minha vida como jogo poker: pago pra ver tudo". Faça seu nome agora, cara.
"Um dia eu vou dar certo"
"Eu resolvo essa coisa amanhã"
"Pense logicamente"
"Por que você está assim? Você não é assim"
E sim, é clichê, mas existe um carinha dentro de mim desde sempre. Ele fazia eu pensar em comer insetos quando era menor; e eu odiava insetos.
Era uma auto punição até eu descobrir a lidar com isso.
"Você não pode se empolgar", disseram. Eu concordo, mas discordo. Ele é quem não pode se empolgar. Coisas incríveis saem de mim quando me empolgo: esse blog, as músicas que crio, os textos que escrevo, as coisas legais que falo de vez em quando, etc.
Também estou resolvendo isso, então fica tranquilo. Vai demorar pra eu tomar todo o controle, mas eu consigo.

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Tá doendo, sim. Mas eu vou dizer que não dói. Não quero encher o saco de ninguém nem soar infantil. Tenho 18 agora. Não estou mais na quinta série.
("Eu tenho 21 hoje, era mais maduro com 12...")
Até então estou conseguindo analisar a situação de fora, do jeito que gosto, mas sei que uma hora ou outra entrarei em cena e vou sofrer muito. Vou recorrer a pessoas que eu não deveria nem pensar sobre e músicas que eu nem gostaria mais de ouvir.
Mas é a vida.
A gente tá aí pra se entregar, de qualquer forma.


Obrigado, leitor, por ler meu desabafo. Volte sempre, por favor.

terça-feira, 21 de abril de 2015

D.F. U KNEW

Caralho, eu tô tão triste.

É incrível como uma troca de palavras em tom de brincadeira pode mudar tanta coisa. É incrível como eu consigo ser tão idiota e boca aberta.

(
E a dor que eu sinto agora é tão maior que a daquela outra tarde
É uma dor diferente
Uma dor interna
Não de ter cometido um erro
Mas de ir pro abate pelo mesmo
Caralho, eu tô tão triste
)

Eu sei que fui um imbecil e agora é hora de arcar com as consequências; não espero um abraço e um sorriso.

(
E isso vale pra todos
Eu só quero que me desculpem
Eu sei que agi como um idiota
Eu só não sei o que esperar do futuro
Eu devia ter consertado a tempo
Eu devia ter conseguido
Ter falado
Me expressado
Você é tão idiota e por isso vai viver com a culpa
Eu sinto tanto
Caralho, eu tô tão triste
)

E eu também que é isso aí; vida que segue. Eu só não gosto de ter olhos fixados nas minhas costas dizendo tantas coisa ruins. Digo que nunca fui competitivo, mas sempre tentei ser o melhor. E uma coisa que percebi ao longo desse tempo, é que preciso eliminar muitos "eu"s dos meus textos. Arrogante imbecil.

(
Eu nem sei mais se a dor é real
Talvez escrever seja meu ponto de fuga mesmo
E quando não puder mais escrever?
Vou parar de usar brincadeiras pra falar sério?
Vou deixar de existir?
Ver a arma apontada na minha direção?
Você não tem direito nenhum de atirar
Mas gostaria tanto que o fizesse
Caralho, eu ainda estou triste
)

Qual é o segredo da tua felicidade? Se manter afastado? Não mostrar todas as cartas? Manter um sorriso? Convencer pessoas?
Eu sou muito idiota em confiar em você. Muito.
Sabe, cara, meus pais chegam hoje. O que vou falar pra eles quando perguntarem o que é "D.F. U KNEW"?
Nem eu mesmo sei o que é isso, cara.
É engraçado que em mil canções eles dizem "Olha, merda vai acontecer. Você pode deixá-la de lado ou rebatê-la."
E em tantas outras: "Olha, puxar o gatilho mais piora do que melhora."
E agora, cara? Como eu vou consertar essa merda?
Você vai lá e vai colocar a cara a tapa?
O que você espera que aconteça, hein?
Acabou, cara. Acabou. Você acabou de enterrar sua cova. Pelo menos nesse sentido, sim. E eu não aguento mais esperar que você acabe com todos os outros sentidos.

(
Eu não sei o que fazer
E quando até aquelas coisas que você considerava fúteis começam a fazer sentido
Meu amigo, cê tá bem fodido.
Caralho, eu tô com tanta raiva
)

Eu acho que não consigo mais segurar nas costas.



Caralho, eu tô muito triste.

procurei prosodia no dicionario e me perdi

acordei querendo um pouco de cha
um pouco de nos
contar pros meus avos
que te beijei no sofa

to esperando v o c e no nosso cafe
as quatro da tarde
com um as na manga
e capricho no paleto

vem ca que ha de sermos por sois, vos
poesia pra ontem
nada alem de um amor homografo,

               holografico v o c e me puxa
               pra dançar e eu so-corro
               dessa prosodia nos seus labios e no escuro.

terça-feira, 7 de abril de 2015

só sei que foi assim{}

- ... E é isso.
- ...
- Diz alguma coisa...
- Ah, não, é que, ahn, eu não sei... Sei lá, é isso aí mesmo. Só que você está tão linda hoje...
{
Passei minha mão direita pelo seu cabelo e empurrei sua cabeça contra meu peito.
}
- Para, assim vou sentir saudades...
- E eu que já estou sentindo?
{
Rimos um pouco
}
- Bom, se cuide. Fique bem mesmo. Nunca vou te esquecer. Nunca me esqueça. 
- Mas é claro que não. Se cuide também...
{
Dei um beijo em sua testa e me virei para ir embora. 
Caminhei até o infinito três vezes seguidas. 
}

Ávida avenida e bairro e redondeza e eixo e asa

Ele olha de um lado para o outro antes de atravessar a rua. Sabe que a via é de mão única, mas nunca lhe custava nada. Não vai tropeçar em seus próprios pés, porque os cadarços estão sempre perfeitamente amarrados, em dois firmes laços. Mesmo assim, atravessa olhando para o chão, notando cada imperfeição do pavimento que poderia trincar com o peso dos automóveis. Observa um panfleto voando e não sabe se pega ou deixa a poluição se espalhar pelo mundo. Ele apressa o passo horizontalmente e alcança o letreiro em forma de papel. É de uma loja de cortinas qualquer. E anda um pouco mais. Acaba de lembrar de como ela gosta das cortinas perfeitamente arrumadas. Assim, alinhadas, muito bem desenhadas, mesmo que de um jeito um tanto desajeitado. Está frio e o vento assopra o casaco dos pedestres. Sabe que é hora de fechar as cortinas, e por isso guarda o panfleto no bolso esquerdo. Todos já estão procurando lojas como abrigo, mesmo sabendo que vão sair sem comprar nada. Vê crianças pintando o sete enquanto fogem do cuidado excessivo de suas mães, que correm segurando toucas e suéteres. E vê pessoas segurando bolsas e copos de café, enquanto querem segurar a mão de outro alguém. Mas está tudo bem. São só crianças. 

Já faz um tempo que não sabe mais o que é saudade. Ele olha de um lado para o outro antes de atravessar a rua. Pensa em voltar. Nunca lhe custava nada, mas sabe que aquela via é, por vezes, de mão única, e ainda assim poderia tropeçar.