autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

quarta-feira, 29 de julho de 2015

quiromancia

e, sob a luz do asfalto
ricocheteiam milhares de fótons
e partículas do universo multilateral
atravessando a poeira que se expande
no ar e as mil ladeiras em diagonal
tensionando e friccionando a matéria
no tilintar das paredes opacas
no fogo que arde vindo do vidro
da lente que sorri ao girar o mastro focal
do período mesolítico,
e que volta

volta ao cosmo subatômico.

te conheci aqui há quase
catorze bilhões de anos.

**

por isso me remete, ah, com toda a calma
os seus olhos de caleidoscópio a pequenas vertigens,
és o estalar das ondas curtas na areia e as colisões atômicas na expansão relativa do espaço e do tempo.

e de mansinho, eu me aproximo,
a meia-luz dançando por entre sombras e pelo velejar do tato,
me perdi nas entrelinhas,
e hoje pura e simplesmente lutei para não cair por todos os traços (e pequenos relapsos)
dentro do carrossel dos seus átomos.

sábado, 25 de julho de 2015

Aerodinamik, @2h30 e muita coisa pra minha cabeça

Não acontece com vocês de quebrar a parede que nos divide, fazendo com que eu, escritor, interaja diretamente com você, leitor?

Não me leve a mal, mas meu estilo é livre demais e é por isso que vou falhar gravemente na redação do ENEM.

Mas sério, não acontece com vocês de se preocuparem demais com as coisas antes da hora? Tenho dentro de mim um medo tão insano de deixar de ser interessante. Tremo só de pensar no dia em que a gente se olhar e não ver mais nada. E aí você vira de costas e se vai e eu faço o mesmo. Tudo foi tempo perdido? Jamais. Mas com certeza fará falta, de alguma forma. E se essa pessoa descobrir meus defeitos e não quiser lidar com eles? As minhas qualidades vão suprir a demanda?

Olha lá, já estou me preocupando antecipadamente de novo.

Não me sinto tão bem, ultimamente. Há uma enorme cobrança dentro de mim para produzir. Adolescência é tudo isso aí o que dizem, só que pior. E eu que achei que dois anos atrás estava tudo caindo em pedaços. As coisas vão de fato ficando mais difíceis, mas não significa que eu gostaria de retroceder no tempo. Na verdade, eu odiaria voltar no tempo. Adoraria dar uma palestra de como vencer na vida, mas hoje não dá. Nem amanhã. Volta semana que vem, acho que estarei por aqui (aposto que você odeia quando eu ajo assim). Até eu me acho um saco, as vezes. Mas é assim mesmo. Quem sabe com um pouco de paciência e atenção eu melhore. Ainda tem todo o resto, mas eu ainda nem comi. Não sinto fome, mas tenho que comer. Lembrem-se disso. TEM que comer.

É dúvida demais, pessoal. Muita dúvida mesmo. Muito amor balanceado com muito ódio. É a vida te dando e te tirando coisas. É você feliz por ter algo para te desestressar (uma bicicleta) e, de repente, não poder usá-la (estar com uma tendinite e não poder pedalar). Quando você está atrás de alguém e esse alguém não está de bem com a vida. Você magoar uma pessoa que gosta de você. Sentir tanto ciúme que sua cabeça gira em torno do próprio eixo. Sentir tanta inveja que você acaba se sentindo a pessoa mais idiota do mundo. E como faz, então? Culpa os signos? Culpa a tijolada que levou na cabeça quando era pequeno? As pessoas que fizeram sua vida parecer ínfima? Nem venha falar que tenho problemas mal resolvidos. Eu sei disso e vivo com isso. Insisto em voltar em alguns detalhes no passado para ficar me auto afirmando e também para me julgar e me despedaçar por completo. Mas odeio a história toda. Não me apego ao passado, graças a Deus. Imagine só.

Tem pouca coisa que me acalma em momentos como esse e eu deixo pistas bem claras por aí. Na verdade, espero muito que as pistas sejam encontradas e efetuadas, mas também adoro surpresas. Eu diria para você tentar. Sempre tentar. E não ouse desistir do seu peixe. As coisas são assim mesmo. Você desmonta uma barreira, anda tranquilo por um tempo e se depara com uma bomba. No meu caso, fico nervoso desmontando a barreira, andando, achando a bomba e de tão nervoso, acabo por engolir a bomba. Para falar a verdade, não confiem em mim. Estou nervoso só de escrever esse texto.

Escrevi um texto no meio dessa semana e tenho muito medo de revisitá-lo. Era sobre um deserto. Sobre destruição e autoflagelo. Degradação pessoal, algo assim. Meio pesado. Tenho medo de me perder demais nos meus pensamentos, de vez em quando. O fato engraçado é que nunca havia abordado tão a fundo tais temas. Vou considerar como experiência criativa ou qualquer coisa que me faça esquecer.

Preciso encerrar por aqui, mas daqui a algumas horas com certeza vou lembrar de mais algo que poderia ter escrito. Acontece. Me desejem sorte. Essa é uma das famosas crises e, dependendo da situação em que me meter, pode demorar a passar. Não é como se eu não pudesse fazer nada a respeito, claro. Mas às vezes é preciso chegar no fundo e todo aquele blablablá...

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Já faz um tempo

que meu estômago embrulhou
mas continua tudo assim
sereno.

mal-dita seja essa época que brutalizou a vida
porque pessoas são presas nesses cubículos chamados corpos onde são forçadas a existir, só e somente só existir. oprimidas a viverem tão iguais, oprimidas a serem mais um número em uma estatística para propaganda de qualquer monstrimultinacional.
somos meros apartamentos de um prédio para camadas pobres da população economizando espaço nessa guerra de ódio, raiva e rancores que líderes que representam povos que nos representam travam e nos forçam a nos travar.
e é impossível viver fixado como meros apartamentos (vidas ou existências?) iguais.
não consigo prender meus pés no chão porque estou suspenso no apartamento 1080 no décimo andar. assim como não posso voar, porque asas para suspender no ar o peso do céu não cabem nesse cubículo. a janela é muito pequena para eu possa sair e voar.
as asas atrofiaram e as penas caíram. meus pés não sustentam peso algum.
massas de pessoas vivem em seus cubículos que amassam noventa e oito porcento da população mundial inteiro em um local só. local de só dois porcento do mundo. porque os outros noventa e oito porcento de lugares do mundo é de um grupo de só dois. co-existimos com poderes que são livres para amassar pessoas em caixas cinzas de concreto cinza e seco.
no mundo todo é proibido amar
porque todo mundo já tentou viver
mas todos um dia perderam sua força contida nos músculos de seus corpos ou tiveram suas asas atrofiadas por (des)uso.
alguns, porém, colheram suas penas.
aqueles que as deixaram, deixaram seus sonhos.
os que as colheram, colhem sonhos.
aqueles que se deixaram, deixaram seus sonhos.
os que resistiram, persistem seus sonhos.
um sonhador já sem asas faz do chão seu próprio céu
e todo mundo com 36 anos já quis ir à lua ou ao centro da terra.
no século XXI ainda se tenta amar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

E quem tá certo?

Quando chegar o momento / 
Esse meu sofrimento
 / Vou cobrar com juros. Juro! /
 Todo esse amor reprimido
 / Esse grito contido /
Esse samba no escuro.

:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-

Gata /
Esquece desses nóia
/ Que toma bola e rebola /
Que te dá bota pra ficar com outro tchola 
/ Hey gata /
Fica pronta e tal, se apronta legal /
Que faz tempo que não coça a ponta do *scratch* /

:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-

It's sure as the floor 'neath my toes /
And somehow not surprised
/ That I was superimposed, somehow in this life /
And if my friends and my foes would just drop me a line, it'd be nice. /

:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-

Dropping your bombs now
On all we built
How does it feel now to watch it burn?
Raise your weapons, raise your weapons
And it's over.

:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-

sábado, 11 de julho de 2015

viajor infantil

escreveu de Mercúrio até Netuno caminhando com essa bota de pano de acrobata
pulando de cometa em cometa: parou em Saturno. Correu pelo anel astronômico, feliz
sentou na borda sem medo de cair
com os olhos pretos surpreendidos, olhou:
a plêiade de estrelas brilhantes, únicas
impressionista algum saberia como pintar aquilo,
talvez Monet, mas desconfio da Belle Époque.
Caiu o último grão de areia da ampulheta:
de acaso a acaso o livre arbítrio abraçou o destino
o astronauta enxerga uma nuvem e curioso vai ver de perto:
puxado por aquela rotação, não se amedronta
abraça tudo aquilo, confia no ballet universal.
(sabe que se pensar muito, vai ver o infinito se esconder)
a poeira se junta e rotaciona, o hidrogênio intrínseco
dá um aceno saudoso,
por trás do capacete, um sorriso
vira estrela: é festa celeste.
Uma lágrima escorre no rosto do menino
mas levanta, porque sabe
que se não dançar, vai se atrasar
pois a música não cessa
e precisa dançar durante todo o disco: do vinil ao yottabyte
se quiser, um dia, ser astronauta também.

Ponteiro

Longe de ser Alzheimer, minha memória é calendário;
dos poucos dias que passam, me arrasta espalhando sangue
pelo chão como feridas abertas, tragédias hemorrágicas
e taquicardias sonolentas no decorrer das horas frágeis.
A cada "que dia é hoje?" há um revirar de olhos e duas mordidas
nos lábios, resistindo no desmanchar de todos os órgãos internos
e mergulhando num turbilhão de elementos que não sei se vivi
aqui ou senti em sonho comovido pelo refluxo do tempo.
Queria enxergar o espaço como a grande Persistência da Memória,
recriando um quadro cubista com elefantes longos e a lembrança
da luz refletindo nos ombros de menino naquela tarde de quarta-feira.
Hoje, por mais que eu raciocine através de inúmeros fractais e
algoritmos inerentemente humanos, ainda me bagunçam os ponteiros
que acionam a meia-noite e me vêm aqui a necessidade de conserto
e a imagem rápida daquilo que chamam de passado.
Nada desse porte me atormenta; mas há sempre aquilo encoberto
e separado por marcas d'água feitas de tempo, de páginas
do calendário que você sempre esquece de trocar.
Por pouco não sou consumida pela voracidade do acaso ou do
déjà vu. E assim acompanho o andar lúdico de um carrossel;
aqui estamos, e aqui nos arremessamos ao cais e ao cavalgar do tempo.