autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

sexta-feira, 29 de julho de 2016

talvez qualquer um que leia isso não consiga encontrar toda a polidez que eu sempre tento ter na escolha de cada palavra de cada vírgula de cada ponto e vírgula de cada ponto de cada espaço de cada quebra de linha de página de backspace consertando linhas erradas de nada eu só quero escrever isso quase como um grito gutural da minha alma porque eu não consigo entender nada do que acontece nada nada nada nada que eu poderia repetir milhões de vezes pra que ecoasse em cada parede cômodo sala quarto banheiro cozinha dessa casa e pedir uma súplica a Deus que me desse algum sentido algum norte algum lugar pra andar alguma linha certa pra escrever algum canto confortável pra me recuperar sem que eu pudesse estragar alguma coisa além dessas linhas que eu decidi escrever sem voltar atrás em uma palavra mesmo que isso me ataque todos os nervos e perfeccionismos patéticos simplesmente por uma estética besta que eu tento mostrar pra todo mundo sendo que eu só sou essa bagunça infernal e tento manter tudo no lugar e eu não consigo mais eu sinto uma saudades enorme daquele beijo que você me deu e que eu pude simplesmente não ligar pra coisa alguma eu lembro das estrelas perdidas atrás de você como se fosse só nós e o universo e você sentada no meu colo e as nossas línguas falando aquela língua única que só nós dois entendíamos e nossas mãos nos despiam e logo víamos e estávamos fodendo como se aquela fosse nossa primeira transa ou a nossa última mas não era ou talvez fosse e eu nunca sabia e ia embora com um sentimento merda toda vez eu fiz a droga duma playlist cheia de música ruim e essa deveria ter seu nome mas hoje você não está aqui há um oceano entre nós todo corpo tem um pouco de prisão e acho que nós dois somos infinitos demais para acabarmos presos em mais uma prisão além de nossos corpos que obrigam nossas mentes nessa sensação horrível de viver em algo tão limitado para pararmos e repousarmos nossas cabeças e podermos falar nossas histórias tristes um para o outro numa meia-luz no quarto olhando para o outro tocando um o rosto do outro como dois amantes e rindo das bobeiras mas nós decidimos cada um correr e perseguir todo seu caminho porque nós dois queremos descobrir e viajar um mundo inteiro e navegar e nadar todos os oceanos inteiros e adentrar diversos universos diferentes e explorar cada estrela e facho possível de poeira estelar eu me assusto porque eu não consigo entender essas coisas e isso tudo me assusta eu percebo que o fluxo se torna cada vez mais forte quando eu fecho meus olhos e as palavras correm somente pelas minhas ideias sem ver a imagem na minha frente porque eu sei a direção de cada tecla e o caminho que cada dedo meu cada impulso elétrico e nervoso precisa correr pra encontrar a tecla certa para cada ideia minha e eu sei que dificilmente alguma palavra vá sair errada e eu escuto algum cantor inglês ou americano chato e triste cantando no meu ouvido alguma música triste e lembro que tudo é violento e tudo brilha e é fácil estarmos à véspera de um pedido de socorro perdido no tempo e eu conseguiria escrever e colecionar nomes de bandas e músicas todos aqui, mas decidi arriscar: tudo está perdido eu não sei como arriscar mais alguma linha letra palavra linha e começar um parágrafo nesse estilo rasgado e inconsciente mas eu tento seguir como se minha vida dependesse de cada um desses segundos tentando colocar cada demônio e monstro que vive dentro de mim pra fora através dos meus dedos e do meu corpo e da minha mente pra aliviar a tristeza a angústia a frustração que entopem corroem e corrompem como se cada veia e artéria que percorrem cada centímetro do meu corpo e irrigam todo lugar com essa dor e esse aperto e esse peso de existir se eu tento voltar onde tudo isso começou eu lembro de ver uma foto sua com um sorvete na mão e uma camisa xadrez e eu senti um encantamento estranho e ridículo e quando eu vi conversávamos e estávamos prestes a sair e ir ao cinema e eu coloquei uma camiseta do ramones porque eu sabia que você gostava e eu gostava e estávamos sentados nas poltronas e eu lembro até hoje a sensação das nossas mãos roçando como que envergonhadas e de leve tomando coragem até estarmos de mãos dadas e você beijou meu rosto e eu virei e te beijei e foi o pior beijo da minha vida mas céus como eu adorei aquilo e me senti perdidamente apaixonado e como se tudo tivesse sido varrido e tirado do seu lugar dentro de mim e conversávamos e nós íamos e víamos e assumíamos distâncias e muros e de repente quebrávamos tudo e nos aproximávamos e construíamos distâncias maiores e mais fortes e um dia eu decidi te perguntar se mais alguma coisa poderia acontecer entre a gente e eu lembro do seu não e a sensação de desespero e destruição interna e você se foi e ninguém nunca mais se viu ou se falou e você reapareceu quando eu tava em uma cama depois de passar por uma cirurgia e você me beijou e eu tentei te empurrar mas nós acabamos nos beijando e uma hora você olhou pra mim e disse que nós só não estávamos juntos porque eu não queria e até hoje eu lembro de você sentada na cadeira do meu quarto falando cada uma dessas palavras como se tivessem sido uns dos segundos mais longos de toda a minha vida e a meia-luz das luzes de cima do meu quarto e você se foi pra são paulo de novo e ficou só a sensação do inverno que fica em junho e eu ando em cada rua dessa cidade com medo de você aparecer porque eu sei que você sempre vem pra cá e lembro do barulho de panela de pressão e os vidros suados e sinto como se cada parede e janela estivesse me pressionando e meus ouvidos estivessem prestes a explodir e a textura horrível da japona do uniforme escolar na volta dos dias frios e você se foi

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Abraço / O dia em que o mendigo me quebrou /

Notei, nesses dias, que tenho abraço menos. Muito diferente dos abraços que costumava dar nas pessoas, hoje abraço com menos força. Com nojo, talvez. É bizarro.
Sempre fui muito acostumado a surpreender pessoas com abraços apertados e longos, o que até me rendeu um certo título... Mas e hoje? O que me ocorre?

Afastamento.

Me sinto meio sozinho. Não tenho mais vontade de tocar nas pessoas. Fico sem jeito, tímido. Faço piadas, mas não toco mais. Não consigo.
Eu, que já me incomodava horrores com cafunés, me pego negando carinhos. O que está acontecendo?

Solidão.

Achei que essas palavras só se encontravam em músicas bregas, mas aparentemente alguém decidiu bater em minha porta e trazer a amiguinha...

Mas vai ficar tudo bem.

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M: Ô, me arranja uma brasa aí.
E: Não tenho, velho.
M: Um cigarro então.
E: Também não tenho, cara. Não tenho nada.
M: Você não tem nada?
E: Não.
M: E quando foi que você perdeu tudo?

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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Com a palavra, João Basso: #somostodosgatos

Na vida selvagem, um gato em estado terminal entende que está mais vulnerável a predadores e busca um lugar para morrer em paz. Por conta disso, é comum o animal instintivamente se isolar em um cômodo pouco visitado, em baixo de móveis ou no quintal.